Beatriz Cunha
XIX Bienal de
Cerveira
DA POP ARTE ÀS TRANS-VANGUARDAS, Apropriações da arte
popular
Memória descritiva
A memória, a História da Arte, a cultura popular, a representação
do corpo humano, a tentativa de equilibrar tendências opostas, são os pilares
da construção das minhas obras, mas não o ponto de origem, esse fica reservado
à busca por uma homeostasia interior.
Num mundo exterior tomado pela
instabilidade, onde sou, somos todos, forçados a conviver diariamente com o inconcebível,
é de grande valor, a possibilidade de me voltar para o trabalho artístico, como
se me voltasse para a própria alma, para um mundo interno e seguro.
Do contraste desses mundos nascem obras que tendem à
combinação ecléctica, de múltiplas referências, integrando elementos
aparentemente incompatíveis e de proveniências muitas vezes opostas ou com
reminiscências de uma ruralidade já quase perdida.
O seu desenvolvimento acontece na confluência entre as
forças fundamentais da Natureza e o lugar do ser humano como um elemento, entre
outros, de um contexto mais amplo, entre fenómeno e
essência, acção e resultado, numa procura de representação simbólica das
complexidades da vida, inserida numa sociedade tecnicamente avançada mas em
crescentes dificuldades em termos humanos, e do lugar que ela ocupa no Universo.
“Heroon”, é dedicado ao heroísmo do homem comum, um homem
telúrico, antigo e gasto mas rico de vivências e sabedoria acumulada,
sustentado pelas quatro pernas de um banco, de produção industrial mas interiormente
pleno de reverência pelo sagrado na natureza. Uma espécie de relicário de contraditórias
experiências de vida.