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Sunday, May 26, 2019

Rosie



Eu, Rosie, eu se falasse, eu dir-te-ia
Que partout, everywhere, em toda a parte,
A vida égale, idêntica, the same,
É sempre um esforço inútil,
Um voo cego a nada.
Mas dancemos; dancemos
Já que temos
A valsa começada
E o Nada
Deve acabar-se também,
Como todas as coisas.
Tu pensas
Nas vantagens imensas
De um par
Que paga sem falar;
Eu, nauseado e grogue,
Eu penso, vê lá bem,
Em Arles e na orelha de
Van Gogh...
E assim entre o que eu
penso e o que tu sentes
A ponte que nos une - é
estar ausentes.

Reinaldo Ferreira
Reinaldo Ferreira

Nasceu a 20 Março 1922
(Barcelona, Espanha)
Morreu em 30 Junho 1959
Reinaldo Edgar de Azevedo e Silva Ferreira 
foi um poeta português que realizou toda a sua obra em
Moçambique.

Sunday, June 5, 2011

Os eunucos

Os eunucos devoram-se a si mesmos
Não mudam de uniforme, são venais
E quando os mais são feitos em torresmos
Defendem os tiranos contra os pais

Em tudo são verdugos mais ou menos
No jardim dos haréns os principais
E quando os mais são feitos em torresmos
Não matam os tiranos pedem mais

Suportam toda a dor na calmaria
Da olímpica visão dos samurais
Havia um dono a mais na satrapia
Mas foi lançado à cova dos chacais

Em vénias malabares à luz do dia
Lambuzam da saliva os maiorais
E quando os mais são feitos em fatias
Não matam os tiranos pedem mais.


“Os eunucos” – José Afonso

Sunday, November 21, 2010

HE WISHES FOR THE CLOTHS OF HEAVEN

By W.B. YEATS (1865-1939)


Had I the heaven's embroidered cloths,
Enwrought with golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half-light,
I would spread the cloths under your feet:
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your feet;
Tread lightly because you tread on my dreams.

Tivesse eu as vestes bordadas do paraíso,
entretecidas com luz dourada e prateada,
O azul e o escuro e a roupagem escura
Da noite e a luz e a meia-luz,
Eu espalharia as vestes debaixo dos teus pés:
Mas eu, sendo pobre, tenho apenas os meus sonhos;
Estendi os meus sonhos sob os teus pés;
Passa suavemente porque pisas os meus sonhos.

Wednesday, October 13, 2010

Fernando Pessoa

"To be great, be entirely:                           
  nothing of yours exaggerate or exclude.   
  Be complete in each thing.                       
       Put all you are                                               
            in the least that you do.                                     
  Thus in each lake the whole moon            
    Shines, because it high lives."                     


 
"Pra ser grande, sê inteiro:
nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.   
Põe quanto és     
No mínimo que fazes   
Assim em cada lago a lua toda 
Brilha, porque alta vive."
                                 

Tuesday, September 28, 2010

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.


Fernando Pessoa (heterónimo Ricardo Reis, 1-7-1916)

Sunday, June 27, 2010

O Poeta é um fingidor

The poet is a pretender.
He pretends so completely
That he even pretends it’s pain
The pain that he really feels.

And those who read his writings,
Sense well in the pain they read,
Not the two pains he had
But only the one they lack.

And so it goes on its tracks,
Rotating to entertain reason,
That little clockwork train
Which is called heart.

Fernando Pessoa

Friday, January 22, 2010

Palavras sábias | Wise words

Dies slowly who doesn't travel
Who doesn't read,
Who doesn't listen to music,
Who destroys self-respect
Who doesn’t allow him self to be helped.
Dies slowly who becomes a slave of habit
Repeating every day the same path.
Who doesn't change brands at the supermarket
doesn't take the risk of wearing a new colour
doesn't talk with whom he doesn't know.
Dies slowly who avoids a passion
Who prefers "black on the white"
and the "dots in the is" to a whirl of untameable emotions
Exactly the ones that rescue the shine in the eyes
Smiles and hiccups, stumbling heart, feelings.
Dies slowly who doesn't turn the table when he’s unhappy at work
Who doesn't risk the certain for the uncertain pursuing a dream
Who does not permit him self
once in a lifetime, to flee of wise pieces of advice.
Dies slowly who passes his days complaining of bad luck
or of the incessant rain.
Giving up on a project before beginning it
not asking about an ignored subject
and not answering when asked on what he knows.
Let us avoid death in safe doses
Remembering always that being alive demands more
than the simple act of breading
Let us live then!

Pablo Neruda

"Morre lentamente quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem destrói o seu amor-próprio,
Quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
Repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
Quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
Quem prefere O "preto no branco"
E os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis,
Justamente as que resgatam brilho nos olhos,
Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
Quem não se permite,
Uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da
Chuva incessante,
Desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
E não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
Recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o
Simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!"

Pablo Neruda
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